Os acordos da trégua entre PCC e CV: Mudanças na conjuntura político-criminal das facções no Brasil

Vinícius Pereira de Figueiredo1

Eduardo Armando Medina Dyna2

Introdução

O ano de 2025 registrou diversos acontecimentos no que diz respeito à relação entre o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV). Em fevereiro deste ano, diversos “salves3”, alertas e informações foram disseminados em redes sociais e sites de notícia, relatando um suposto acordo de trégua entre PCC e CV, após quase 10 anos de inimizades no período de 2016 – 2025, marcado por um conjunto de confrontos violentos, disputas por rotas comerciais de mercadorias criminais, tomadas de território em áreas periféricas, prisionais e fronteiriças em diversas regiões, em especial nas Unidades Federativas (UF) do Norte e Nordeste do Brasil. 

Para tanto, o Observatório de Segurança Pública e Relações Comunitárias (OSP) da Universidade Estadual Paulista (UNESP), publicou no dia 14 de abril de 2025, um artigo intitulado “Os acordos da trégua entre PCC e CV”, apresentando um balanço introdutório sobre os motivos e consequências do fim da amizade entre as duas maiores facções criminais do Brasil. Os pesquisadores desenvolveram uma explicação da expansão nacional do PCC e CV a partir do final dos anos 2000, os projetos de internacionalização de ambos para países do continente sul americano no começo da década de 2010 até as conquistas de parcerias, territórios e rotas comerciais, expressado no Projeto Paraguai que teve seu ápice em 2016. Neste mesmo ano, o PCC e CV anunciaram o fim dessa relação estratégica e produziram uma cisão entre as organizações criminais no Brasil, com alianças e inimigos declarados entre os blocos “Tudo 3”, do PCC, e “Tudo 2”, do CV. 

A trégua foi anunciada no começo de fevereiro de 2025, com grande repercussão na opinião pública, autoridades responsáveis e pesquisadores, além das dúvidas em relação à manutenção do acordo ou da iminente volta ao conflito. Pois bem, no final de abril de 2025, uma série de “salves” e notícias marcaram o debate público, pois ambas as organizações anunciaram o fim deste acordo, marcando algumas perguntas: “Quais foram os motivos para a trégua?” e “Quais foram os empecilhos para a volta dos conflitos?”.

Para dar continuidade, este artigo tem como objetivo, explorar o período que entrou em vigor o salve da trégua entre o PCC e CV, que totalizou quase 3 meses de aceno para uma retomada ao diálogo, investigando quais foram as limitações, disputas e acordos deste evento em diversas regiões do Brasil. Os procedimentos metodológicos da pesquisa foram de cunho qualitativo, com algumas estratégias do desenho da pesquisa: 1) Revisão bibliográfica sobre os temas; 2) Monitoramento, coleta e análise de dados em redes sociais e sites de notícia com técnicas de netnografia; 3) Análise de conjuntura sobre a composição político-criminal dos desdobramentos da trégua e manutenção dos conflitos.

É relevante ressaltar que, muitas das informações que os autores investigam são encontradas em espaços digitais que não são comuns aos olhos da opinião pública. Dessa forma, o uso constante e interações nas redes sociais X (ex-twitter) e Telegram foram algumas ferramentas para conseguir coletar dados e analisar de maneira crítica, pois em alguns casos, são nesses espaços que as informações circulam primeiro, sendo depois retiradas e disseminadas por sites de notícias com maior impacto. Destarte, os procedimentos metodológicos utilizados no desenvolvimento da pesquisa passaram por diferentes etapas, sendo importante a descrição delas para maior compreensão de como foi feito o desenho da presente investigação. 

Diante disso, foram coletados dados sobre informações de algumas fontes, entre elas: a) Reportagens jornalísticas: Empresas de comunicação como os jornais O Globo, UOL, Metrópoles, além de coberturas de profissionais que cobrem esse tipo de nicho periodista; b) Imagens: Foram encontradas muitas fotos, prints e informações das organizações criminais que são circuladas e/ou “vazadas” por usuários que frequentam e compartilham esse tipo de conteúdo, sendo sistematizadas e reproduzidas em páginas de redes sociais ou grupos de aplicativos de conversa, espaços em que os pesquisadores conseguem monitorar, interagir e realizar a coleta dos dados; c) Vídeos: Semelhante ao item anterior, a divulgação de vídeos das mais diversas naturezas, mostrando armas, integrantes, mercadorias criminais, performances, estratégias de ação, cenas de violências e assassinatos, dentre outros, são disponibilizados em redes sociais e grupos de aplicativos de mensagem. 

Dentre dessa natureza de ‘fontes’, ou seja, informações coletadas nos sites de notícias, imagens e vídeos encontradas nos espaços digitais, locais que os pesquisadores interagem com seu campo de pesquisa, há questões fundamentais que pertencem à sociabilidade dos comandos e seus agentes, no que diz respeito aos comunicados e seus “salves”. Muitas imagens e vídeos são disseminados como forma de comunicação interna e externa, algumas vezes são “vazados” e outras são enviados com intuito de se propagar para outros públicos, chegando até os sites de notícias que, em algumas situações, obtêm suas fontes desses locais. 

Neste recorte sobre a trégua entre PCC e CV, muitas informações destinadas a particularidades das UFs (CV atuante do Ceará ou PCC no Amazonas) são materializadas nessa questão sobre a comunicação interna e externa dentro desse universo criminal. Outro componente essencial são os “salves”, instrumento polissêmico que serve para diversos fins, destinado a comunicar o fim da trégua, o retorno da guerra e o esclarecimento de questões locais com anúncios das próprias facções. É diante desse contexto que exerce um dos campos de atuação e relação com interlocutores dos pesquisadores do OSP, em razão das redes sociais serem o espaço propício para monitorar, colher e analisar criticamente todos os dados, suas fontes e naturezas para serem compreendido e avaliado para a incorporação da pesquisa científica. 

O monitoramento e contatos com a página do X “Submundo Criminal” foram importantes para a sistematização de informações que são obtidas exclusivamente pelo trabalho das pessoas que administram essa página, contribuindo de maneira relevante para a análise de nichos específicos dentro do universo digital. Esses contatos são importantes, pois para quem investiga temas relacionados ao mundo do crime, organizações criminais e segurança pública, há dificuldades com limitações de acesso aos dados, devido à segurança dos próprios pesquisadores e interlocutores, perigos, ameaças e ausência de informações claras e atualizadas. A página acaba por cumprir um papel duplo para a pesquisa: por um lado, ao disseminar dados que são de difícil acesso ou que demoram a chegar na mídia convencional, o que contribui para um rápido acesso (que não deve ser analisado a-criticamente) às mudanças dentro do mundo do crime, e por outro, ao canalizar as discussões, mesmo que limitada a quem têm acesso, sobre temas sensíveis, servindo como um grande acervo sobre o crime. 

Por fim, uma ressalva importante é a temporalidade em que os dados foram coletados e analisados. Deste modo, as informações foram retiradas a partir da primeira quinzena de fevereiro até maio de 2025, um período de quase três meses, podendo, após a publicação e a consulta dos leitores deste artigo, as informações estarem alteradas ou inadequadas, ficando o alerta para não cair em considerações anacrônicas e falsas impressões sobre os fatos em si, a análise dos pesquisadores e os processos recorrentes desse evento. 

A estrutura do artigo está dividida em três partes, além desta introdução e as considerações finais. Em primeiro, será analisado o período em que ficou em vigor o acordo entre as facções, analisando quais foram as práticas, discursos e resistências, focando nas diferenças territoriais e regionais que geraram tensão nesses meses. Em segundo, será investigado os motivos, consequências e rearranjos entre a retomada dos conflitos entre PCC e CV. Em terceiro lugar, o texto será dedicado às análises dos pesquisadores sobre os aspectos da trégua e suas consequências no mundo do crime, na segurança pública e na população brasileira.

Um momento atípico: Anúncio da trégua entre PCC e CV

No começo de fevereiro de 2025, os sites de notícias, as redes sociais e a opinião pública abordaram um assunto surpreendente sobre as dinâmicas do mundo do crime. Alguns “salves” foram difundidos em alguns grupos de aplicativo de mensagem e portais de notícia, anunciando acordos de não agressão entre as maiores facções do Brasil, após quase 10 anos de conflitos, violências e reconfigurações político-criminais que assolaram o campo da segurança pública.

O começo desse momento atípico é marcado pela data do dia 10 de fevereiro de 2025, quando houve o anúncio da suposta trégua entre o PCC e o CV através de uma reportagem que confirmou para a opinião pública os rumores que circulavam nesse período (Pinheiro, 2025). Dentre os motivos, os principais eram a pressão coletiva entre os grupos criminais4 para articular mais pressão político-criminal para flexibilizar as regras dos presídios federais e/ou de instituições com regras mais repressivas, atendendo aos interesses dos líderes e agentes mais ‘respeitáveis’ [poder e influência] de ambas as organizações. Ademais, visavam a organização e distribuição de todo dispositivo das rotas comerciais ilícitas no Brasil, conhecidas pela Rota Caipira (Abreu, 2017) e Rota Solimões (Ferreira; Framento, 2019).

Segundo as informações analisadas, essa concretização da trégua estava sendo discutida há anos, como a informação de um importante promotor de justiça, Lincoln Gakiya, na qual afirma que as conversas estão sendo desenvolvidas desde 2019, citando:

Naquele ano, Marcola havia sido recém-transferido para o sistema federal, mais rigoroso, e foi procurado por advogados enviados pelo CV para tentar fechar um acordo. Assim como o chefe do PCC, integrantes da quadrilha rival também estavam sob o mesmo regime, que havia endurecido ainda mais as regras depois de receber integrantes da organização paulista. Ao ouvir sobre o pedido de paz, Marcola teria respondido que o inimigo deles era o Estado, não o crime, e que eles deveriam, sim, se unir novamente. Naquele momento, porém, a conciliação passou a valer apenas para os estados do Rio de Janeiro e de São Paulo, sendo só agora estendida a outros pontos do país (Ribeiro; Araújo, 2025, p. 1).

Deste modo, Gakiya indica que os acordos já estavam sendo estabelecidos, em menor grau, em territórios de São Paulo e Rio de Janeiro, focando na troca de favores e possíveis parcerias destinadas aos integrantes de alto escalão das facções. A ruptura que marcou a atenção da trégua, foi a expansão desse acordo para outras regiões do Brasil, impactando outras dinâmicas criminais, interesses econômicos e rearranjos geopolíticos-criminais que resultam em outras práticas e discursos dos agentes do PCC e CV, que segundo o promotor: “Na verdade, desde a internação do Marcola (em agosto de 2023), essa trégua de fato já existia no Rio e em São Paulo. Agora ela se espalhou por outros estados — diz o promotor Lincoln Gakiya” (Ribeiro; Araújo, 2025, p. 1).

Dias após o anúncio da trégua, houve a disseminação de “salves” locais do PCC e CV espalhado nas mais variadas regiões do Brasil, trazendo informações importantes para serem analisadas. Na primeira imagem, há o conteúdo do salve de uma função da estrutura política do PCC em São Paulo, descrevendo o comunicado geral que há acordo com o CV e que são proibidas mortes nas UFs que já têm presença deste comando. As informações deixam claro que o acordo foi feito “de cima”, sendo obrigatório para todos seguirem as ordens. 

Imagem 1: “Salve” do PCC-SP sobre a trégua

Fonte: Coleta de dados nas redes sociais

Um fator importante é a produção simbólica que se encontra nas informações produzidas pelas organizações criminais. Como discutido no texto do OSP (Dyna, 2025) em janeiro de 2025, as facções criam signos culturais próprios, por um longo processo de adaptações, criações e ressignificações de elementos que não são do mundo do crime, como o futebol, religião, política, músicas, culturas, linguajares, dentre outros processos que são incorporados e produzidos como pertencentes à facção. 

Isto posto, nessa primeira imagem, há signos específicos como a bandeira do Chile e de Israel, além de representações de uma pomba branca “🕊” e uma medalha com número 3 “🥉”. Isso representa a paz (pomba branca) pelo PCC, que é apresentado por emojis da medalha 3 (pois este número é remetido ao PCC e sua aliança Tudo 3) e as bandeiras do Chile e Israel. A imagem a seguir é um salve do CV do Amazonas discorrendo sobre a trégua com o PCC. 

Imagem 2: “Salve” do CV – BA sobre a trégua

Fonte: Coleta de dados nas redes sociais

Como na figura anterior, o texto direciona que a “casa maior”, leia-se a cúpula do CV na Bahia, ordenou que seja proibido qualquer ataque contra os integrantes do PCC, em virtude das negociações da paz. Um elemento interessante é a instabilidade dessa ordem criminal perante aos seus membros, pois a mensagem reforça que “nada certo ainda por enquanto”, o que reforça um prisma em relação a durabilidade desse acordo na realidade da Bahia, na medida que esta UF vive, há alguns anos, em um contexto de violências, disputas entre os agrupamentos e a pluralidade de grupos criminais, sendo um dos locais com maior número de comandos em todo território brasileiro.

O rearranjo político-criminal foi frequente com a declaração da trégua entre o PCC e o CV. Isso significa que os acordos tiveram impactos imediatos na composição política dentro das realidades das disputas e ordens dos comandos espalhados pelo Brasil, além de alterar as estratégias de outras facções que eram aliadas, inimigas ou neutras em relação aos agrupamentos nacionais. Para exemplificar será exposto alguns casos que ajudam a materializar essas mudanças por causa da trégua. No Amazonas, a volta de uma união com o CV não foi consenso entre os integrantes da alta cúpula do PCC, visto que esta UF é uma região de intensa disputa entre essas facções, havendo divisões dentro do PCC na disputa territorial nas periferias de Manaus e outras cidades contra o CV. 

No Ceará, houve mudanças de coalizões das alianças Tudo 3, pois a facção Massa Carcerária (ou denominada como Neutros) rompeu a aliança com o PCC, pois este tinha reativado os acordos com o CV, rival da Massa Carcerária, que por este motivo, tomou-se a decisão de não integrar mais o Tudo 3 com o PCC. No Mato Grosso, um homem foi sequestrado, agredido e torturado – fisicamente e psicologicamente – por integrantes do CV de Cuiabá. 

Segundo as informações de Thor (2025), a vítima foi colocada no “tribunal do crime” do CV-MT e recebeu a punição pelo motivo banal de fazer sinais da facção PCC  – signos com o número 3 que remete ao Tudo 3 conforme explicado na pesquisa do OSP (Dyna, 2025) -. O desfecho só não foi fatal pois os membros do CV pediram autorização para integrantes de alas superiores, que com a negação do ato de assassinar contra a vítima, foi esclarecido que os acordos entre PCC e CV tinham que ser cumpridos por todos os integrantes, sem matança, como forma de manutenção da paz entre os dois comandos, deixando a vítima livre momentos depois.

A configuração entre PCC e CV foi mudando conforme explicado nesses exemplos, mas suas relações com outras facções estavam ficando mais tensas. Um dos casos mais extremos, ocorrida no final de fevereiro, foi o racha entre o CV e sua antiga aliada, Sindicato do Crime do Rio Grande do Norte (SDC-RN), com informações que circulavam uma ofensiva do SDC-RN contra territórios do CV na região potiguar, aumentando os conflitos após a trégua. Vale lembrar que o SDC-RN é uma organização criminal que rivalizou com o PCC, especialmente no contexto de 2017 em que houve uma rebelião no presídio de Alcaçuz, na cidade de Nísia Floresta há 25 quilômetros da capital Natal. 

Como discutido no primeiro artigo do OSP deste tema (Figueiredo; Dyna, 2025), sobre as guerras entre os blocos criminais protagonizados pelas facções estudadas, o SDC-RN fez diversos confrontos contra o PCC, seus aliados e pessoas próximas, seja nas prisões ou periferias das cidades norte-rio-grandenses. Com o acordo confirmado, o SDC-RN que já estava com conflitos velados contra o CV, ratificou aquilo que já era esperado: disputas violentas contra seu ex-aliado. A partir da coleta nas redes sociais5, foi possível identificar um salve do CV-RN em que se certifica o fim da amizade e demonstra informações importantes para membros do CV e SDC. Para efeitos de didática, foi transcrito a mensagem na íntegra e apresentado a seguir:

Comunicado Oficial COMANDO VERMELHO 

CVRL-RJ +CVRL-RN 

COMUNICADO IMPORTANTE AO CRIME DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE, A PARTIR DESTA DATA 22/02/25 CONVIDAMOS TODO O CRIME DO RN A FAZER PARTE DA NOSSA FAMÍLIA CVRL 

DEIXANDO CLARO QUE ESSA GUERRA FOI INICIADA ATRAVES DE UM COMUNICADO DOS FINALISTAS SINDICATO DO CRIME “SDC” QUE SE ENCONTRAM DENTRO DOS PRESÍDIOS FEDERAIS E ESTADUAIS DECLARANDO A GUERRA CONTRA NÓS DO CV, 

O COMANDO VERMELHO SEMPRE MANTEVE O RESPEITO E AMIZADE COM A FACÇÃO “SDC” E HOJE COVARDEMENTE RECEBEMOS A NOTÍCIA QUE DECLARARAM A GUERRA CONTRA NÓS ATRAVÉS DA SUA LIDERANÇA, 

NÓS DO COMANDO VERMELHO NUNCA FUGIREMOS DA GUERRA E ESTAMOS PREPARADOS PARA ENFRENTAR QUALQUER UM QUE SEJA CONTRA NÓS!

AMIGOS DA MASSA DO RN ESTÃO CONVIDADOS A CAMINHAR COM O CV, INTEGRANTES DESTA FACÇÃO “SDC” QUE QUISEREM RASGAR A CAMISA A HORA É AGORA!!! 

NÓS DO CVRL-RN ESTAMOS DE BRAÇOS ABERTOS PARA RECEBER OS AMIGOS QUE VIEREM DE CORAÇÃO E NA PUREZA, TODOS OS INTEGRANTES DO “SDC” QUE SE ENCONTRAM NA ÁREA DE COMANDO VERMELHO ESTÃO RASGANDO A CAMISA DO “SDC” E VESTINDO A DO CV, CHEGOU A HORA DE VIVERMOS O CRIME JUSTO, CORRETO E CERTO! 

SE EU AVANÇAR – SIGA-ME 

SE EU RECUAR – MATEM-ME 

SE EU MORRER – VINGUEM-ME 

ASS:FINAL CVRL-RN CVRL-RJ)

(Coleta de dados, 2025).

No mês de março a coleta online identificou que a extensão da possível trégua para as regiões fora do Sudeste poderia ter reorganizado as alianças, especialmente no Nordeste, foram encontradas informações sobre a união entre a facção cearense Guardiões Do Estado (GDE), o SDC-RN e a Nova Okaida (NKD), da Paraíba, em resposta à aliança entre o PCC e o CV. Destaca-se, nessa aliança, que anteriormente o SDC-RN estava alinhado com a GDE, relação que foi abalada pelo alinhamento da facção do Rio Grande do Norte com o CV, entre 2016 e 2017, mas que agora foi restaurada. A fragmentação e a reorganização geradas pela trégua ainda desencadearam conflitos no Rio Grande do Norte, que enfraqueceram a NKD da Paraíba e aumentaram as tensões entre o Terceiro Comando Puro (TCP) e o CV no Ceará.

O impacto também foi sentido na região Norte, que, como já abordado, representa uma posição estratégica no controle das fronteiras e na distribuição de drogas pela Rota Solimões (Ferreira; Framento, 2019), sendo, portanto, alvo de tensões e interesses de diversos grupos, com atuação destacada do CV na região. Assim, durante a trégua, o CV-AM, no dia 09 de março, por meio de um comunicado, detalhou as especificações sobre o acordo.

*🚩SALVE GERAL🚩*

*09 de março de 2025*

*Primeiramente (CV-RL-AM), saudamos a todos os irmãos (a) com um forte e respeitoso abraço.*

*Viemos através deste esclarecer a aliança feita entre (CV e PCC). Desde 25 de fevereiro, foi firmada a aliança entre as duas organizações em prol de uma melhoria para o crime. Essa guerra sangrenta só beneficiava o governo, enquanto estávamos lutando e tendo a perda de vários irmãos. O governo estava do lado de fora, aplaudindo a morte de cada irmão de ambas as organizações. E agora a aliança foi firmada pela alta cúpula de ambas as organizações. A paz já está imperando em todos os estados que nós temos domínio. Mas ainda temos vários assuntos em pauta que iremos falar neste salve e em outros em momentos oportunos.*

*Um dos assuntos é a proibição de batismo dentro do estado do Amazonas da parte do PCC. Não pode haver batismo dentro ou fora do sistema, e alguns outros nomes que estão em presídios federais. Deixamos também claro que inimigos do PCC serão também nossos inimigos, assim como nossos inimigos serão inimigos do PCC. Camaradas que se denominam neutros serão também nossos inimigos. No nosso estado, existe membro do (CV-RL-AM e membros do PCC). Fora isso é inimigo nosso.*

*Referente à circulação de PCC em área do CV e vice-versa, fica a critério de cada frente de área. Se porventura o frente proibir, tem que ser respeitada a decisão do irmão dono da área.

ANJINHO, NEYZINHO, BB E COQUINHO não são mais inimigos do CV-RL-AM, mas estão proibidos de fazer qualquer atividade dentro do estado do Amazonas no meio de nossos irmãos CV-RL-AM. Até mesmo troca de ideias com nossos irmãos e de anda dentro do estado está proibido mas vamos respeitar a camisa que eles vertem assim como iremos respeitar na risca máxima do Comando Vermelho e pedimos que todos os irmãos tenham o respeito sobre a aliança feita entre as duas organizações. Irmãos do CV-RL-AM não tomem nenhuma decisão isolada para não se prejudicarem. Todo membro que tiver quaisquer dúvidas procure a sua referência ou o Conselho Permanente que será esclarecido qualquer ponto duvidoso, Estaremos à disposição pra orientar e instruir nossos irmãos CV-RL-AM.*

*Em questões sobre as áreas onde está o PCC, ele iram continuar no domínio e não poderão avançar ou expandir para área de nossos irmãos CV-RL-AM. E nem os irmãos do CV-RL-AM poderão avançar para área do PCC. Pedimos que ambas as facções respeitem um o espaço do outro e seguiremos em frente buscando avanço nas melhorias e em busca de progresso e a paz absoluta no estado do Amazonas. Esperamos que tenha ficado bem claro e específico para todos que Deus abençoe a vida de todos.*

*📍SE EU AVANÇAR SIGA-ME*
*📍SE EU RECUAR MATE-ME*
*📍SE EU MORRER VINGUE-ME*

*ATT: Conselho Permanente CV-RL-AM a voz final do estado do Amazonas 🚩*

(Coleta de dados, 2025).

O comunicado parece ter como objetivo esclarecer os boatos que circulavam e confirmar a existência de uma trégua entre o CV e o PCC. Ao mesmo tempo, recua em alguns pontos, como ao deixar livre a decisão sobre a circulação de membros do PCC no território do CV, ficando essa definição a critério de cada liderança local (frente de área). O texto também esclarece a situação de nomes anteriormente considerados inimigos da facção, indicando que, dentro do mesmo tom conciliatório, esses indivíduos não são mais tratados como inimigos – embora ainda se mantenham restrições a alguns dos nomes mencionados no comunicado6. No Amapá, o cenário se repetiu com um pronunciamento do CV-AP aceitando a trégua com a facção Família Terror Amapá (FTA) que seria aliada do PCC. 

*COMANDO VERMELHO AMAPÁ RJ*

*PRIMEIRAMENTE NOSSOS LEAIS VOTOS DE PAZ, JUSTIÇA E LIBERDADE.*

* 🚩 SALVE 🚩 *

*RAPAZIADA NOSSO CONSELHO PERMANENTE DO CVRL AMAPÁ VEM ATRAVÉS DESSE SALVE PASSAR A VISÃO PARA GERAL QUE APARTIR DE HOJE DIA 21/03/25 ESTAMOS TOMANDO UMA DECISÃO PARA O BEM MAIOR DA NOSSA ORGANIZAÇÃO.*

*NÓS DO CVRL AP ESTAMOS FECHANDO UM ACORDO DE PAZ COM A (“FTA” “FAMÍLIA TERROR AMAPÁ”), PÔS ESTAMOS PRIORIZANDO O BEM MAIOR DE TODO CRIME DO ESTADO. ENTÃO APARTIR DE HOJE ESTÁ BRECAD0 TODO TIPO DE EVENTO CONTRA A “FTA”, ESSA PAZ ESTARÁ TRAZENDO O FIM A GUERRA ENTRE NOSSAS ORGANIZAÇÕES.*

*E QUE FIQUE CLARO PÔS AQUELE INTEGRANTE QUE VIER A TOMAR QUALQUER TIPO DE ATITUDE ISOLADA CONTRA MEMBROS DA “FTA E DO PCC” ESSE UM SERÁ COBRADO DE ACORDO COM A GRAVIDADE DA SITUAÇÃO, SENDO DIGNO DE CORREÇÃO OU ATÉ MESMO O DECRETO DE ÓBITO FOI O CASO. ESSAS REGRAS SERVIRAM PARA AMBAS AS ORGANIZAÇÕES.*

*NO LEMA DO PRINCÍPIO DE PAZ, JUSTIÇA E LIBERDADE, SIGNIFICA QUE O RESPEITO DE TODAS AS LUTAS SOMOS TAMBÉM DE PAZ.*

*A RAPAZIADA DA “FTA” NÃO IRÁ BATIZAR NAS QUEBRADAS E GALERIAS DO SISTEMA A QUAL NÓS DO “CVRL” PREDOMINA. E ASSIM NÓS DO CVRL TAMBÉM VAMOS RESPEITAR NA MESMA BATIDA, CADA UM NA SUA ÁRIA COM RESPEITO.*

*OBS, EM QUESTÃO DE PROGRESSO A RAPAZIADA DA FTA TERÁ QUE FAZER NEGÓCIOS DIRETAMENTE COM NÓS DO CVRL AMAPÁ. ASSIM COMO NÓS DO CV VAMOS MANTER O RESPEITO DE NÃO FAZER NEGÓCIOS DIRETAMENTE COM OS CRIA DA FTA, TAMBÉM QUEREMOS QUE OS NEGÓCIOS SEJAM TRATADOS DIRETAMENTE COM O NOSSO CONSELHO DO CV AMAPÁ. PÔS NOSSAS HIERARQUIAS ESTÃO COM O DIÁLOGO ABERTO PARA ESSES TIPOS DE NEGÓCIOS.*

*PEDIMOS NO MÁXIMO RESPEITO QUE OS NOSSOS IRMÃOS DO CVRL DE OUTROS ESTADOS E PAÍSES POSSAM ESTAR ENTRANDO EM CONTATO COM NÓS DO CVRL AMAPÁ SE POR ACASO ESTIVER EM QUALQUER DIÁLOGO DE NEGÓCIOS COM MEMBROS DA FTA, ISSO PARA QUE AS COISAS POSSAM SER SEMPRE FEITAS DE FORMA CORRETA.*

*OBS, NÃO VAMOS TOLERAR IMPOSTORES FANTASIADOS DE CRIME NEUTRO, QUE SÓ VISÃO O PRÓPRIO INTERESSE E NÃO TEM COMPROMISSO NENHUM COM O CRIME. SEMPRE BUSCARAM SE DAR BEM EM CIMA DA LUTA DOS OUTROS, ENQUANTO MUITOS AMIGOS PERDERAM SUAS VIDAS HONRANDO SUA FACÇÃO, ESSES CRIME NEUTRO SÓ SE BENEFICIAVAM SEM TER COMPROMISSO COM NINGUÉM MUITO MENOS COM O CRIME NO AMAPÁ. NÃO VAMOS ACEITAR VOCÊS INFILTRADOS EM NOSSAS ÁRIAS E VAMOS TOMAR PROVIDÊNCIAS NECESSÁRIAS E RADICAIS SE FOR O CASO.*

*ESPERO QUE TODOS TENHAM ENTENDIDO, NO MAIS DEIXAMOS UM FORTE ABRAÇO.*

*LIBERDADE, RESPEITO, LUTA, JUSTIÇA E UNIÃO.*

*SE EU AVANÇAR SIGA-ME 🚩

*SE EU RECUAR MATE-ME 🚩

*SE EU MORRER VINGUE-ME 🚩*

*ASS: CONSELHO PERMANENTE CVRL AP RJ🇧🇷*

🚩🚩🚩🚩🚩🚩🚩🚩🚩🚩🚩🚩🚩🚩🚩🚩

(Coleta de dados, 2025).

No mesmo sentido do pronunciamento do Amazonas, no dia 23 do mesmo mês, março, o comunicado estabelece os limites da trégua e as orientações ao mesmo tempo que apresenta um posicionamento das lideranças em relação à nova organização do crime. A trégua, assim como sua divulgação e repercussão, produziu efeitos e impactos em toda a dinâmica do crime no Brasil, alterando as práticas das facções em todo o território nacional. Enquanto no Sudeste – região historicamente dividida entre o PCC e o CV, desde 2016 – verificou-se a aproximação entre os dois grupos, com cooperação em serviços de mercados formais, como internet e combustível (Araújo, 2025), além da solicitação de transferências de membros do PCC para cadeias dominadas pelo CV (Leitão, 2025), por outro lado, comunicados indicam que, no momento da trégua, facções menores se adequaram à nova dinâmica, fortalecendo-se contra o acordo. É o caso da aliança entre a NKD, o SDC-RN e a GDE, ou de grupos que evidenciaram os limites dos novos arranjos – quem são os inimigos e com quem estão aliados -, como nos comunicados do CV-AM e CV-PA.

O fim que estava próximo: O desfecho da trégua entre PCC e CV

Entre os dias 28 e 29 de abril de 2025, foi anunciado o fim dos acordos entre o PCC e o CV, finalizando um período atípico da história do mundo do crime no Brasil. Segundo a reportagem de Ribeiro e Soares (2025), o Ministério Público de São Paulo confirmou que as cúpulas de ambas as organizações criminais anunciaram o fim da trégua e a retomada dos conflitos nas regiões com maior tensionalidade, que nas palavras de Gakiya: “Acho que isso era até esperado. Não imaginava que [a trégua] fosse perdurar. A informação que tive conhecimento, já há algum tempo, é de que o Marcinho VP [principal líder do CV] não teria dado aval para essa trégua. E o aval dele seria indispensável. Isso pode ter levado a esse rompimento” (Ribeiro; Soares, 2025, p. 1).

Para confirmar tal suspeita, foi coletado e analisado dois “salves”, de ambas as organizações, que apresentam suas versões, estratégias e comunicam aos seus filiados sobre essa nova fase entre as facções nacionais. Para uma melhor compreensão, foi transcrito os “salves”, que antes estavam “printados”, sendo observados em algumas páginas do X e grupos de aplicativos de conversa, reproduzindo a mesma mensagem para nichos específicos que se interessam por este assunto oculto.

Nesta primeira mensagem, está descrito um comunicado geral, datado do dia 28 de abril de 2025, em que o PCC esclarece alguns pontos interessantes: 1) Controle para impedir mortes por “pura banalidade”, como nos casos das pessoas mortas pelo uso de sinais de facções; 2) O diálogo em aberto para uma retomada de trégua nacional com o CV; 3) O PCC reforça algumas regras para impedir os desvios dentro da sua estrutura interna, como por exemplo, na “covardia” (agressão e mortes) contra familiares e integrantes de outros agrupamentos. A princípio, o PCC pauta em uma ética do crime (Biondi, 2014, 2018), que pode ser compreendido como um pilar de controle interno e externo sobre as dinâmicas do mundo do crime, estabelecido pelas próprias facções e que causaria um impacto ameno em relação às violências e confrontos que assolam o Brasil por parte desses grupos. O “salve7” a seguir nos ajuda a esclarecer esses tópicos:

**Comunicado Geral – 28/04/2025** 

Um forte e leal abraço a todos. Informamos que, nesta data, chegou ao fim nossa aliança e qualquer compromisso com o Comando Vermelho. Nosso objetivo principal sempre foi poupar vidas, especialmente de dezenas de pessoas inocentes que estavam perdendo suas vidas por pura banalidade. Nosso lema sempre foi e continuará sendo: “o crime fortalece o crime”. Permaneceremos abertos ao diálogo com todos que são a favor da paz. Esclarecemos alguns pontos importantes: não aceitaremos que integrantes pratiquem qualquer tipo de covardia contra familiares ou pessoas inocentes de qualquer organização, ou com quem quer que seja. Questões que ferem a ética do crime nunca foram e nem serão aceitas em nenhuma aliança ou amizade. 

Afirmamos que o respeito à vida humana deve estar acima dos interesses pessoais ou de organizações. Assim como chegamos a um consenso na aliança, o término ocorreu com respeito e humildade por ambas as partes, reconhecendo os pontos cruciais que envolvem todos os lados.

Agradecemos a todos e vida que segue!

Assinado, Primeiro Comando da Capital

(coleta de dados, 2025).

O “salve” do CV foi atribuído na mesma lógica do PCC, inclusive, na mesma data. O conteúdo tem dois objetivos gerais, sendo o primeiro o anúncio da ruptura da aliança com o PCC e reforçar as “diretrizes internas” que são as regras de conduta dos membros e aproximados nos territórios que o CV têm sua influência. Este salve têm mais informações, comparado ao rival, estabelecendo as seguintes prerrogativas, como na proibição de ações que ferem o estatuto apresentado como entregar os próprios membros para policiais ou facções rivais; Fugas em presídios de maneira “certa”; Proibição nos roubos de drogas ou rivais de forma “desonesta”; Desautorização no comércio de drogas de maneira desonrosa; Veto de matar familiares de integrantes de facções e inocentes; E por último, a reprovação de assassinar pessoas por motivos banais, tal como, nos sinais de facções “2” e “3” que ficaram conhecidas nacionalmente. 

Neste último caso, demonstra-se a repercussão negativa da ação do CV do Ceará que assassinou uma vítima em dezembro de 2024, pelo motivo fútil do jovem em tirar fotos com o sinal 3, sendo associado, erroneamente, como integrante de alguma organização do Tudo 3. A discussão sobre as representações de símbolos de facções ganhou grande repercussão na última quinzena de 2024, sendo alvo de discussões e até piadas nas redes sociais, o tema também aparece com certa preocupação nos comunicados de fim da trégua das facções, tendo sido melhor discutido em outro artigo do OSP (Dyna, 2025). Essas regras e controle social por parte das facções ajudam a entender os impactos que a opinião pública têm nesses grupos, como observado no seguinte salve8:

CIRCULAR INFORMATIVA

Assunto: Ruptura de Aliança com o PCC e Reforço de Diretrizes Internas 

A todos os Estados e Países, Comunicamos que, a partir desta data (28-04-2025), não mantemos mais qualquer aliança ou compromisso com o Primeiro Comando da Capital (PCC). Entretanto, deixamos claro que: 

Qualquer membro do Comando Vermelho (CV) que vier a cometer atos que manchem o nome da nossa facção, conforme previsto em nosso estatuto como: 

• Entregar companheiros (caguetar),

• saída dos companheiros do cárcere terá que ser de forma certa, sem Covardia ! 

• Roubar drogas ou inimigos agindo de forma desonesta (pilantragem),

• Comercializar drogas de forma desonrosa, (dívidas) 

• Atentar contra a vida de famílias ou de inocentes, 

• Tirar a vida de pessoas de bem por motivos banais (como tirar foto com sinal de de 2 ou 3) – será punido exemplarmente, independente de haver ou não aliança. Reafirmamos que o respeito à vida humana deve estar acima de tudo, irmãos. 

Nossos princípios não mudam com alianças; nossa conduta é baseada em honra e responsabilidade. 

ASS: Comando Vermelho

(Coleta de dados, 2025).

Os conflitos voltaram com força em algumas localidades entre o PCC e o CV. Na UF do Amazonas, na grande Manaus, os confrontos entre ambas organizações foram altíssimos nos primeiros dias de maio, o que sustenta que a trégua em alguns locais foram menos estabilizadas do que outros, tornando-se um estopim que promoveu o fim desses acordos. Na primeira semana de maio, houve mortes de integrantes do PCC por meio de algozes do CV, além de eventos de “rasgar a camisa9” que é a troca de comandos, isto é, pessoas que integravam ao PCC foram se filiar ao seu rival, sendo visto como traidor pelo primeiro e comemorado como uma vitória no segundo.

Este confronto em Manaus foi seguido do domínio de territórios periféricos, graças às propensões das rotas de comércio ilícitos que passam pelos rios da região, como a rota Solimões (Ferreira; Framento, 2019), somado a ordem criminal e os interesses políticos e econômicos do CV. Segundo informações que circulam nas redes sociais, houve “salves” do CV e de ex membro do PCC que pularam para a nova facção, argumentando que o desenvolvimento que o grupo paulista fazia nos territórios manauaras não era positivo, atendendo apenas os interesses de agentes de alta cúpula do PCC no Amazonas, ausência de comprometimento aos membros internos e outras promessas não cumpridas, como:

SALVE A TODOS MEUS✶ ✶IRMAOS DO AM *29/04/2025* 

*Primeiramente quero desejar a todos um sincero e forte abraço de minha parte plenitude. Estou vindo aqui através deste salve comunicar a todos que aparte de hoje eu não faço mas parte do (pcc) pelo os motivos; falta de fortalecimento, fraqueza e desonestidade e falta de ajuda do luza do coquinho e da próprio facção. e os demais que só tem olhos para si próprio[…] Busquem fechar no certo assim como (eu).que Procurei os amigos permanente do comando vermelho pedindo a oportunidade para ser ouvido,os mesmo me ouviram e deram total atenção..e hoje eles me recebem como verdadeiro irmão..e não como fantoche..da forma que eu estava sendo na mão do coquinho. Parem de seguir o errado e venham comigo na direção de quem realmente vai lhe valorizar como um verdadeiros guerreiro,e companheiro antes que seja tarde demais. todos viram o salve que foi laçando.. não tenham medo de procurar os irmãos. […] Por todos esses motivos que citei hoje rasgo a camisa do pcc e visto a camisa do verdadeiro comando CV AM: a casa de onde eu nunca deveria ter saindo. Mas por um momento de burrice e fraqueza cai no papo furado desse salafrário, cara que promete mas não compri. […] So tenho agradecer ao comando pela a oportunidade, meu lema Aparti de hoje e servir ao comando vermelho até o final com lealdade respeito e transparência. Busquem também suas oportunidades meus irmãos..e parem de sofrer por uma causa perdida. vc vai nadar, nadar, e irá morrer na praia…pode anotar oq estou dizendo. procurem os amigos e quanto é tempo para se consertar e se redimir assim como eu fiz, fui bem recebido pelos amigos e tenho certeza que todos vcs também iram ter a mesma oportunidade. a todos os irmãos que foram decretado e prejudicados por conta desse pilantra ou de qualquer outro safado sem futuro procure imediatamente os amigos do permanente que eles vão lhe acolher de braços abertos, eles sim são o crime de verdade. […] para trilhamos uma estrada de vitória e progresso, onde nada disso foi encontrado dentro do pcc e nem com o coquinho e seus mentores […] aqui deixo meu salve com forte abraço a todos de minha parte plenitude. Tmj família fiquem todos com Deus*

(coleta de dados, 2025). 

Em outro salve compartilhado nas redes sociais, o CV do Amazonas reforça os confrontos com o PCC, a chegada de novos membros que “rasgaram a camisa” e somaram suas forças a esta organização criminal, além das novas estratégias que movimentam a base dessa facção em Manaus. 

Imagem 3: Salve do CV-AM sobre os desdobramentos do fim da trégua

Fonte: Coleta de dados nas redes sociais

As mudanças da configuração político-criminal também foram sentidas no momento e após a trégua, em especial, nas facções que foram impactadas pelos acordos e que começaram a rivalizar ou criar novas alianças sem o respaldo dos grupos nacionais, além das discutidas nas páginas anteriores. As organizações criminais GDE do Ceará, o TCP do Rio de Janeiro, o Amigos Do Estado (ADE) de Goiás, o Bonde Do Maluco (BDM) da Bahia, a NKD da Paraíba e o Bonde dos 40 (B40) do Maranhão, segundo supostas informações atípicas10, formaram uma aliança para não depender das organizações nacionais.

Essa união de diversas facções, em vários locais do Brasil, pode ser identificada como processos de autonomia e fortalecimento de grupos que eram inimigos do PCC, do CV ou de ambos, como resposta a momentânea trégua analisada durante o texto. Assim, quem mais se fortalece com esse processo é o TCP, pois sua guinada de expansão em diversos territórios do Rio de Janeiro, além de sua presença em outras UFs, como Espírito Santo, Minas Gerais e Bahia, revela o revigoramento do grupo a nível nacional, se aproveitando da brecha criada pelos acordos de seu maior rival (CV) e seu aliado controverso (PCC). O SDC-RN e a NKD também se interessam por esta união, visto os conflitos históricos contra o PCC e as recentes quebras de amizades com o CV, cria um cenário de maiores violências no Rio Grande do Norte e na Paraíba que, também, podem ser explicadas pelas disputas dos comandos. 

Na Bahia, que nos últimos anos está se consolidando como a UF com maior número de conflitos e violências, seja nos índices de violência letal, como observado no relatório recente do Atlas da Violência promovido por Cerqueira, et al, (2025): “Por outro lado, uma notícia alvissareira é que outros dois estados, que vêm apresentando altos índices de violência letal, lograram redução nesse indicador nos dois últimos anos, sendo eles AM e BA” (p. 13), contra jovens: “Dois estados se destacam dos demais no morticínio de jovens, o Amapá e a Bahia, com taxas de 134,5 e 113,7 homicídios por 100 mil jovens (p. 28)” e contra as mulheres: “A Bahia é o estado mais violento para as mulheres da região Nordeste, com taxa de 5,9 mulheres mortas para cada grupo de 100 mil. (p. 52)”, dispõem que as disputas faccionais colaboram para o aumento da violência, porém, que não é o único critério.

A configuração político-criminal no Brasil: passado, presente e futuro

Este rearranjo político-criminal é consequência das novas estratégias que as organizações criminais vêm produzindo a partir de suas necessidades em suas realidades, em outras palavras, como todo poder gera resistências (Foucault, 1988), as facções que não têm um domínio nacional e estão em crescente disputas locais com um dos principais grupos do Brasil, se juntam para fortalecer seu poderio político-militar (conflitos e guerras em diferentes contextos), econômicos (negócios legais e ilegais, sobretudo, a distribuição de drogas no varejo) e ideológicos (no sentido de promover discursos que mobilizam suas bases para criar factoides ou dispositivos que fomentam a mobilização de seus agentes, para assim, garantirem que a guerra continue, com o intuito de revigorar os interesses particulares dessas organizações e de seus agentes). 

A partir de todo exposto, é possível trabalhar em algumas análises importantes. Em primeiro lugar, fica claro que há divergências entre as representações locais do PCC e CV que contrastam com os interesses de suas cúpulas, que estão focadas no elo de São Paulo e Rio de Janeiro. Em suma, isso significa que no imaginário geral essas organizações controlam de forma coesa todo seu aparato organizativo, algo que está parcialmente equivocado, dado que os interesses do eixo Rio – São Paulo são diferentes da realidade nas regiões do norte, nordeste e centro oeste do país. 

Essa perspectiva nos leva a compreender que a construção da relação do PCC em São Paulo e do CV no Rio de Janeiro, como componentes iniciais de seus surgimentos e primeiros passos entre as décadas de 1970 a 1990, promoveu uma relação distinta do que em localidades do Amazonas, Ceará e no Mato Grosso. Isso pode ser explicado em decorrência das primeiras gerações que articularam os primeiros contatos entre ambos, tendo em conta que até 2016, havia relações de respeito mútuo por causa das lideranças entre os grupos criminais. Com o processo de expansão desses poderes por todo país, alinhados com novas gerações, culturas e membros que vieram depois do surgimento da facção, a instabilidade, afetividade e estranhamento entre os agrupamentos trouxeram um processo de conflitos constantes e guerras declaradas de um contra o outro, produzindo um cenário que é peculiar, sendo assim, configurações político-criminais distintas entre o PCC-SP com o PCC-AM e o CV-RJ11 e CV-CE, assim por diante. 

Em segundo lugar, os interesses econômicos são um dos pilares das organizações criminais, independente de sua natureza (máfia, comandos, milícias) ou países (Brasil, Estados Unidos, Itália), conforme a literatura acadêmica nos traz. A expansão do mercado varejista de drogas para outros continentes contribuiu para a diversificação de atividades lícitas e ilícitas, produzindo novas racionalidades econômicas e acordos entre agentes das facções, que por muitas vezes, são conflitantes com outras localidades. Isso quer dizer que os interesses em comuns, na dimensão econômica, são justificativas para a manutenção da paz, como na matéria de Araújo (2025), em que a repórter descreve as ações do PCC e CV no Rio de Janeiro, que mantém acordos econômicos e de segurança para não atrapalharem seus negócios legais e ilegais, pois essa parceria dava frutos econômicos para todos os envolvidos. 

Em terceiro lugar, como relatado por inúmeras reportagens na mídia (Pinheiro, 2025; Ribeiro; Araújo, 2025; Ribeiro; Soares, 2025), muitos dos agentes do PCC e CV com cargos de poder na hierarquia de suas respectivas facções, estavam presos em instituições penais. O cárcere desses agentes se encontravam em regimes diferenciados, sendo os estaduais – como o Regime Disciplinar Diferenciado (RDD) em São Paulo – e as penitenciárias federais, que seguem a mesma lógica desse tipo de pena, com endurecimento das regras, poucos direitos oferecidos aos detentos e um confinamento rigoroso por um período de tempo calculado pelas decisões das autoridades. 

Acordos em comuns, cuja unidade é pretendida para pressionar politicamente, independente da estratégia formulada, seria importante para garantir mais direitos a esses presos e/ou substituir suas penas para serem cumpridas em outras prisões. Assim, o fim da trégua atinge negativamente essas cúpulas, pois uma articulação coerente das maiores facções criminais poderia garantir ações que enfrentam os governos estaduais e federais, pautando essa questão na opinião pública, podendo trazer resultados que importam para esses presos.

Considerações finais

A trégua entre o PCC e o CV representou, como já mencionado, um momento atípico no mundo do crime. No entanto, tanto sua existência quanto sua dissolução são resultados de uma longa trajetória de organização e expansão desses grupos para territórios além dos seus locais de origem, o que contribui para possíveis respostas às perguntas levantadas neste trabalho: “Quais foram os motivos para a trégua?” e “Quais foram os empecilhos para a volta dos conflitos?”.

Ao longo de suas histórias, PCC e CV realizaram expansão para UFs fora da região Sudeste. Movimento que se justifica, por um lado, pelo crescimento das facções, que gerou a necessidade de novos mercados e fornecedores, e, por outro, pelas políticas de transferências prisionais implementadas pelo governo. Essas expansões ocorreram, inicialmente, dentro de um contexto de relativa cooperação, cada qual com sua forma de organização. O CV é caracterizado por uma estrutura hierárquica e territorialmente limitada (Dias, 2024), com agrupamentos locais vinculados ao comando principal. Isso é evidenciado, por exemplo, nos comunicados das facções aliadas ao grupo, que se identificam com a sigla CV seguida do estado correspondente (CV-AM, CV-PA, etc.) Já o PCC têm sua expansão de forma distinta, com ênfase no planejamento estratégico por meio do sistema de sintonias e tribunais do crime, o que confere maior autonomia e legitimidade à facção nos grupos locais. Esse processo de ocupação do território nacional será essencial para entendermos o contexto e o fim da trégua. 

No entanto, a expansão não significou, necessariamente, hegemonia para nenhum dos lados. Mesmo aliados, muitos grupos se organizaram para manter o controle de seus próprios mercados. Esse cenário começou a se remodelar com o rompimento da aliança entre PCC e CV, em 2016, como discutido anteriormente neste trabalho. Nesse contexto, as regiões Norte e Nordeste se destacam devido ao interesse de PCC e CV nas fronteiras, especialmente na rota Solimões (Framento, 2019). A presença nesses territórios foi viabilizada por meio de alianças locais, como com a Família do Norte (FDN), no Amazonas, e os Crias da Tríplice Fronteira (CTF), em Tabatinga – na fronteira com Colômbia e Peru. 

Com o rompimento da aliança, uma onda de violência dizimou algumas facções e intensificou ainda mais as rivalidades. Assim, os possíveis motivos da trégua parecem ter se desenhado a partir das lideranças do PCC e do CV, representadas pelas lideranças Marcola12 e Marcinho VP13, respectivamente, relacionados à região Sudeste. Havia, nesse movimento, a intenção de viabilizar melhores condições nas prisões para ambos os grupos, assim como já destacado, um acordo entre as principais facções poderia facilitar o acesso a rotas estratégicas para o tráfico de drogas. Como a Rota Caipira (Abreu, 2017), com forte presença do PCC e a Rota Solimões (Ferreira; Framento, 2019), com forte presença do CV, ambas fundamentais para o escoamento de entorpecentes a partir das fronteiras internacionais. 

Esses movimentos revelam que a trégua não foi apenas um gesto circunstancial, mas o reflexo de uma reconfiguração mais profunda no interior do crime organizado no Brasil. Ao mesmo tempo em que as lideranças de CV e PCC buscavam reduzir tensões e otimizar seus domínios, essa tentativa de conciliação expôs as complexidades internas dos próprios grupos e os limites das alianças no contexto do crime. As rotas do tráfico, os territórios disputados, as dinâmicas carcerárias e as estruturas de comando tudo isso se entrelaça em uma rede de interesses que ultrapassa as vontades individuais.

Referências Bibliográficas

ARAUJO, Vera. No Rio, CV e PCC fazem acordo e avançam para mercados de internet e combustível. O Globo, Rio de Janeiro, 24 de abril de 2025. Disponível em: https://oglobo.globo.com/rio/noticia/2025/04/24/no-rio-cv-e-pcc-fazem-acordo-e-avancam-para-os-mercados-de-internet-e-combustivel.ghtml?utm_source=X&utm_medium=Social&utm_campaign=O%20Globo. Acesso em: 22 maio 2025.

BIONDI, Karina. Etnografia no movimento: território, hierarquia e lei no PCC. 2014.

CERQUEIRA, Daniel Ricardo de Castro Coordenador et al. Atlas da violência 2025. 2025.

DIAS, Camila Caldeira Nunes. Dinâmica da violência e do crime na macrorregião norte do brasil: o efeito das facções criminais. 202414.

DYNA, Eduardo Armando Medina. Observatório de Segurança Pública. Símbolos, sinais e signos de facções criminosas: aspectos iniciais sobre as dinâmicas no mundo do crime. 2025. Disponível em: https://www.observatoriodeseguranca.org/pesquisas-e-estudos/simbolos-sinais-e-signos-de-faccoes-criminosas-aspectos-iniciais-sobre-as-dinamicas-no-mundo-do-crime/. Acesso em: 16 maio 2025. 

FERREIRA, Marcos Alan SV; FRAMENTO, Rodrigo de Souza. Degradação da Paz no Norte do Brasil: o conflito entre Primeiro Comando da Capital (PCC) e Família do Norte (FDN). Revista Brasileira de Políticas Públicas e Internacionais, v. 4, n. 2, p. 91-114, 2019.

FOUCAULT, Michel. História da sexualidade I: a vontade de saber. Editora Paz e Terra. 1988. 

LEITÃO, Leslie. Aliança de facções: 37 presos do PCC pedem transferência para onde está o CV, e união se confirma após quase 10 anos de guerra. G1, 27 de fevereiro de 2025. Disponível em: https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2025/02/27/alianca-de-faccoes-37-presos-do-pcc-pedem-transferencia-para-onde-esta-o-cv-e-uniao-se-confirma-apos-quase-10-anos-de-guerra.ghtml. Acesso em: 21 maio 2025. 

FIGUEIREDO, Vinicius Pereira de; DYNA, Eduardo Armando Medina. Observatório de Segurança Pública. Os acordos da trégua entre PCC e CV. O fim de uma velha aliança: expansão, internacionalização e conflitos. 2025. Disponível em: https://www.observatoriodeseguranca.org/pesquisas-e-estudos/os-acordos-da-tregua-entre-pcc-e-cv-o-fim-de-uma-velha-alianca-expansao-internacionalizacao-e-conflitos/. Acesso em: 20 maio 2025. 

PINHEIRO, Mirelle. Metrópoles. Exclusivo: PCC e CV articulam trégua e planejam ofensiva histórica. 2025. Disponível em: https://www.metropoles.com/colunas/mirelle-pinheiro/exclusivo-pcc-e-cv-articulam-tregua-e-planejam-ofensiva-historica. Acesso em: 22 maio 2025.

RIBEIRO, Alan; ARAÚJO, Vera. O Globo. Vista com preocupação, trégua entre CV e PCC inclui rotas compartilhadas e combate às regras de penitenciárias federais. 2025. Disponível em: https://oglobo.globo.com/brasil/noticia/2025/02/13/vista-com-preocupacao-tregua-entre-cv-e. Acesso em: 22 maio 2025.
THOR, Lázaro. VGN Notícias. Trégua entre CV e PCC “salva” jogador de futebol torturado no interior de Mato Grosso. Disponível em: https://www.vgnoticias.com.br/policia/tregua-entre-cv-e-pcc-salva-jogador-de-futebol-torturado-no-interior-de-mato-grosso/127178. Acesso em: 22 maio 2025.

  1.  Mestrando pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da UNESP Marília. Possui pós-graduação em Políticas Públicas e Projetos Sociais pelo Centro Universitário SENAC. Graduado em Ciências Sociais e Relações Internacionais pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Pesquisador do Observatório de Segurança Pública. E-mail para contato: vinicius.figueiredo@unesp.br. ↩︎
  2.  Doutorando do Programa de Pós Graduação em Sociologia na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Mestre em Ciências Sociais na Universidade Estadual Paulista (UNESP) – Campus de Marília. Pós-graduado em Políticas Públicas e Projetos Sociais no SENAC-SP. Graduado em Ciências Sociais na UNESP de Marília. Pesquisador do Observatório de Segurança Públicas e Relações Comunitárias, do Laboratório de Análise das Realidades Virtualizadas, ambos da UNESP e do Grupo de Estudos sobre Violência e Administração de Conflitos da UFSCar. E-mail para contato: eduardo.dyna@estudante.ufscar.br. ↩︎
  3.  Os “salves” são ferramentas polissêmicas originárias dos comandos que resultam de comunicações internas, prestações de contas, estratégias de atuação, esclarecimento para a opinião pública, dentre outras ocasiões. Os “salves” são instrumentos de comunicação e informação, sendo coletados e analisados em diferentes contextos e grupos criminais. ↩︎
  4.  Para efeitos de didática, será referenciado as organizações criminais como “Comandos”, “Facções”, “Grupos Criminais” e “Agrupamentos”, além dos nomes de suas respectivas agremiações. ↩︎
  5.  Foi resgatado essa informação a partir do post da rede social X da página “submundo criminal”, descrevendo as dinâmicas das disputas entre CV e SDC-RN. O post original pode ser encontrado: https://x.com/submundodocrime/status/1893782337164353666 ↩︎
  6.  A imagem referente ao comunicado também é um dado da coleta online e pode ser acessado pelo link: https://x.com/submundodocrime/status/1898850034877399119 ↩︎
  7.  O salve circulou em várias redes sociais. Mas é possível identificar na integra a partir da publicação da página Submundo Criminal no X: https://x.com/submundodocrime/status/1917069525826089336 ↩︎
  8.  O salve pode ser lido neste site: https://cn7.com.br/alianca-em-ambito-nacional-entre-as-faccoes-criminosas-pcc-e-cv-dura-apenas-dois-meses-e-meio/ ↩︎
  9.  Rasgar a camisa é uma denominação nativa que significa trocar de facção. ↩︎
  10.  Com o monitoramento e interação nas redes sociais, foi possível identificar, em vários casos, essa junção de organizações. Em outro material diferenciado, uma música do gênero pagodão que mistura elementos do forró, funk e brega, de autoria SDC-RN, trata os 12 anos desta organização criminal e a nova união entre os comandos. A música pode ser acessada neste link: https://www.youtube.com/watch?v=EDG7nE5aigE ↩︎
  11.  A estrutura política do CV é diferente do PCC. Nesta primeira facção, o estabelecimento em outras UFs permite maior autonomia para que seus membros locais decidam sobre suas realidades sem uma interferência direta com a cúpula no Rio de Janeiro. Algo distinto em São Paulo, pois o desenvolvimento de sua estrutura organizativa estabelece que há um “comitê central”, que pode ser incluído independente da UF – mas que na prática há uma predominância de São Paulo – havendo, portanto, dinâmicas políticas que impactam diretamente no funcionamento desses grupos na atuação cotidiana no limbo da legalidade e ilegalidade. ↩︎
  12.  Marcos Willians Herbas Camacho, conhecido pelo seu vulgo ‘Marcola’, é um importante agente que supostamente pertence ao PCC, estando preso há quase 30 anos. Ele é representado pela mídia e pelas autoridades como responsável máximo pelo agrupamento, contudo, a literatura acadêmica e o próprio Marcola contrária essa versão. ↩︎
  13.  Márcio dos Santos Nepomuceno, chamado pelo seu codinome de ‘Marcinho VP’, é um relevante preso que, supostamente, é membro do CV e que está preso desde os anos 2000. ↩︎
  14.   Boletim de Análise Político-Institucional: dinâmicas da violência na região norte. Brasília, DF: Ipea, n. 36, jan. 2024. ISSN 2237-6208. DOI: http://dx.doi.org/10.38116/bapi36 ↩︎

Bacharel em Relações Internacionais pela Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" (Unesp) com a monografia “Organizações Internacionais e suas ações contra o Crime Organizado Transnacional: Um estudo de caso sobre a ascensão e presença do PCC.” Graduando em Ciências Sociais pela mesma instituição e pós-graduando em Políticas Públicas e Projetos Sociais pelo Centro Universitário Senac. Atualmente desenvolvendo iniciação científica como bolsista PIBIC, com o tema “A criminalidade como aspecto da segurança privada no estado de São Paulo: A abordagem da mídia sobre o Primeiro Comando da Capital (PCC).”

Mestrando do Programa de pós graduação em ciências sociais (stricto sensu) na Universidade Estadual Paulista (UNESP) - campus de Marília, na linha 1: Pensamento Social, Educação e Políticas Públicas (2021-2023). Foi bolsista FAPESP, produzido uma pesquisa sobre as disputas de poder entre o PCC e a PM na chacina de 2015 em Osasco (2020).